Arquivo mensal: junho 2016

O Menino de Dentro

 

tenho vivido
para o mundo
e seus costumes
sempre me sentindo
um estranho
no meio dos outros
e com o passar do tempo
fiquei tão só
que me entristeci.

 

para a minha
estranheza
só quando olhei
para o meu interior
é que descobri alguém
que eu havia  esquecido
vivendo dentro de mim.

 

a príncipio me assustei
e só depois me reconheci
como um menino
acuado num canto
que por medo
de ser diferente
se escondeu do mundo
de toda gente
e até mesmo
de si.

 

 

 

 

 

Mar Adentro

não sei bem como dizer
mas estou sendo levado
pelo fluxo das águas
mar adentro
em direção ignorada
como se não tivesse mais volta
e quanto mais distante
eu estou da terra firme
mais maravilhado fico
por singrar o desconhecido
que tanto me assusta
e muito me transforma
despertando forças
e fragilidades
que dão luz
a uma nova forma
de me ver
e de viver.

Pedras no Caminho

sempre
catei pedras
no caminho
pelo simples
hábito de catar
com o tempo
ficaram
tantas pedras
em meus bolsos
que eu não
conseguia
mais andar.

 

certa vez
no caminho
encontrei
uma menina
que me deu
uma simples
solução
era só fazer
um buraquinho
no bolso
para quando
entrasse
pedra nova
uma velha
fosse embora.
Êta, idéia boa!

 

só que não
demorou
muito tempo
para que eu
descobrisse
que não era
mais necessário
pegar as pedras
já que estavam
sempre por ali
onde eu costumava
passear.

 

então
quando caminho
pelos campos
deixo tudo
em seu canto
com o seu próprio
encanto
já que não carrego
mais nada do lugar.

 

e hoje em dia
eu saio correndo
para todos os lados
e sinto
meu corpo
mais ágil
leve
solto
e sereno.

 

agora
eu e a menina
sempre juntos
escalamos  morros
pulamos sobre as rochas
subimos em árvores
rolamos na lama
caímos no rio
e ficamos a passarinhar
até cansar
de tanto brincar.
depois quietinhos
deitamos na grama
e vemos juntinhos
o céu desfilar
seus infinitos
matizes luminosos
através de voláteis
manchas coloridas
até o sol se por
e a noite
com o brilho prateado da lua
venha nos visitar.

 

agora quando caminho
pelos atalhos da vida
só o que eu nunca
deixo de levar
é a companhia
da doce menina
pois para nós
estar juntos
já nos basta.

Infinitesimal

me construo
e me desconstruo
no lógico
e no ilógico
“porque na natureza
nada se cria
e nada se perde,
tudo se transforma”
e eu como parte
infinitesimal
do eterno ciclo
sublime da vida
dou continuidade
ao impulso inicial
que me despertou
para o processo
constante
e sem fim
de transmudação
do visível
no invisível.
Livremente inspirado por Antoine Laurent Lavoisier e sua Lei de Conservação das Massas.